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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

 

ENSINO DE HISTÓRIA DE BRASILEIROS AFRO-DESCENDENTES:

 LEITURA SEM TEXTO, UMA MODALIDA A SER APLICADA AOS PARTICIPANTES DO ENSINO MÉDIO

 

Rogerio Carlos Petrini de Almeida[1]

 

Resumo

No processo de construção e reconstrução dos conceitos, projetados pela história da construção da sociedade brasileira pontua-se neste estudo a vivência dos africanos aqui trazidos nas condições de escravos ou não relatando neste estudo uma brevidade de seu cotidiano e condições sociais com a finalidade de modelar o uso da literatura acadêmica e do emprego da leitura sem texto, com incentivo a pesquisa com aplicação para se ter esses elementos como ferramenta pedagógica com pretensões de uma aula participativa e geradora de uma nova visão do conteúdo e do ensino de história, atual, onde o participante possa ser engajar como sujeito crítico e reflexivo, contemplativo da temporalidade dos fatos recebendo informações que possam lhe promover transformações e melhorias de atitudes sociais.

 

Palavras-chave: Ensino. Afro-descendentes. Literatura sem texto.

 


TEACHING HISTORY OF AFRO-DESCENDANTS BRAZILIAN:

READING WITHOUT TEXT, A MODALIDE TO BE APPLIED TO PARTICIPANTS IN HIGH SCHOOL

 

Abstract

In the process of construction and reconstruction of concepts, projected by the history of the construction of Brazilian society, this study points out the experience of Africans brought here in the conditions of slaves or not reporting in this study a brevity of their daily life and social conditions in order to model the use of academic literature and the use of reading without text, with incentive to research with application to have these elements as a pedagogical tool with the pretensions of a participatory and generating class of a new vision of the content and teaching of history, current, where the participant can be engaged as a critical and reflective subject, contemplating the temporality of facts receiving information that can promote transformations and improvements in social attitudes.

 

Keywords: Teaching. Afro-descendants. Literature.

 

1- INTRODUÇÃO

O estudo se propõe a tematizar o emprego de literatura acadêmica e a leitura sem texto como mecanismo de aprendizado de conhecimentos, aplicado nas aulas de história, relacionados aos brasileiros afro-descendentes, e aos africanos trazidos ao solo brasileiro, por portugueses, na condição de servil. Não podendo esquecer que mesmo após o ultimato da Lei Áurea (1888), houve e ainda há ingresso no Brasil de etnias de origem africana. Não se pode generalizar que todos são brasileiros afro-descendentes sem antes, porém, contemplar sua origem ou genealogia.

 

Recordamos que a diáspora africana promovida pelos portugueses, especialmente nos século XVII e XVIII (BRITO, FABRÍCIO, 3012, p.37), resultou em uma série de ações da sociedade época, o que gerou manifestos contra o emprego da escravização humana, os quais vieram a ser transformados em tratados e Leis a partir de 1810 e nos anos que se seguem até a extinção da escravatura que veiculava no Brasil, no período colonial e imperial.

 

Percebe-se aqui o rico território de informações a serem exploradas no uso do ensino de história dos africanos vinculados as terras brasileiras, e seus descendentes que culminaram em cidadãos, deste País.

 

O texto se ampara na pesquisa bibliográfica de natureza exploratória, sem querer exaurir o assunto, justificando-se o trabalho pela escassez do tema relativo ao uso de artigos publicados e da leitura sem texto, espelhados como forma de aprendizado e perceptivo de geração de observação e conhecimento. Utiliza-se para isto os recursos existentes na internet, em publicações realizadas neste último decênio as quais fomentaram este estudo.

 

Como objetivo geral propõe-se o uso de publicações acadêmicas e imagem relativa ao tema explorado, para condução de geração de conhecimento para participantes do ensino médio. Especificamente instruir o emprego da pesquisa sobre o assunto em textos publicados na internet e no incentivo a pesquisa dos assuntos das imagens serem exploradas em aula.

 

O texto questiona: a viabilidade do uso destes recursos como ferramenta de aprendizado e levanta-se a hipótese que este método irá promover novos caminhos para a percepção de um olhar mais crítico sobre um conteúdo visto.

  

2 O USO DA LITERATURA ACADÊMICA

A produção acadêmica ou literatura acadêmica são as publicações de pesquisa acadêmicas, geralmente informações abertas disseminadas através da internet ( SIMON, 2010), o que nos visiona a possibilidade do alcance da informação e conhecimento, de forma gratuita a qualquer público.

A gratuidade destes conteúdos rompe algumas barreiras da impossibilidade de tê-las ao alcance e sua existência nas redes de computadores permitem que de alguma forma sejam compartilhadas.

 A pretensão do uso da Literatura Acadêmica, por certo é adequada, pois, tais artigos já foram articulados sobre referenciais fortalecendo seu conteúdo e segundo Martins (2008 p.1): “Os estudantes só aprendem a disciplina quando relacionam fatos, confrontam pontos de vista e consultam diversas fontes de pesquisa.”. Dessa forma o uso da Literatura Acadêmica, como leitura que precede a leitura sem texto é uma ferramenta importante no desenvolvimento do ensino.

 A exemplo, buscamos no texto de Sena e Mendes (2020, p.4) o trecho que fala do vestuário:

De acordo com Costa (1997), comumente, cada escravo recebia dois conjuntos de roupa por ano e estas eram trocadas aos domingos e lavadas uma vez por semana. A lavagem, aliada à exposição à chuva e ao sol, logo desgastavam a roupa e a transformavam em trapos, que, muitas vezes, falhavam na tentativa de cobrir o corpo de maneira decente. Ainda que fosse proibido aos senhores que deixassem seus escravos circularem pelas ruas sujos ou muito mal vestidos, resultando até em multas para as situações mais graves, muitos senhores pareciam não estar muito preocupados com a boa manutenção do vestuário desse tipo de escravo, principalmente aqueles cujas fazendas estavam mais afastadas das cidades, onde a fiscalização era mais branda. (SENA E MENDES, 2020, p.4)

 


Em contrapartida, os escravos domésticos possuíam uma vestimenta mais elaborada e de melhor qualidade estética em relação aos seus parceiros da senzala. Convivendo diretamente com os brancos, muitas vezes, possuíam roupas quase tão belas quanto a de seus donos, sendo os primeiros diferenciados apenas pela ausência de sapatos (SCHWARCZ, 1996).

 Diante do texto referenciado e da leitura deste artigo publicado em oito páginas, de fácil acesso e compreensão, quando se pode associar uma ou várias fotos de vestimentas usadas na época colonial-imperial, pela povoação negra e branca e abrir um dialogo a respeito da situação social, por exemplo.

 Não por menos instigar a pesquisa de novos textos por parte do estudante no que antecede a exposição do objeto da leitura sem texto.

 

3 O EMPREGO DA LEITURA SEM TEXTO

A leitura sem texto não é uma novidade na metodologia de ensino, facilmente se percebe seu emprego nos anos iniciais onde se disponibiliza o livro de imagens como parte ou roteiro para uma pré-alfabetização ou letramento literário e segundo Segabinazi (2017, p.27):

[...] alerta o leitor para o olhar mais sensível e mais aguçado, em busca de sentidos e sensações que as ilustrações oferecem; experiências que não se traduzem apenas na descrição das imagens, mas despertam para a construção de significados percebidos pelos detalhes, movimentos, cores, técnicas, texturas, estilos, expressões e etc.(SEGABINAZI, 2017, p.27).

 

O que se projeta para os estudantes de séries de ensino médio é uma abordagem mais ampla objetiva aos fatos aplicados a história dos povoadores escravos negros e abrasileirados, não por menos rememorar esta aplicabilidade em aula destas leituras que estão presente em nosso cotidiano como os emojis (Figura 1) e as tiras facilmente encontradas em publicações tais como as da Tuma da Mônica (Figura 2).

Figura 1 - Emojis

             
                       

Fonte: https://tecnoblog.net/309049/

como-encontrar-gifs-no-whatsapp-ou-no-google

-usando-um-emoji/

 

Figura 2 – Turma da Monica

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/166140673735852026/




 
 

 

 

 

 

 




Existe, em nosso cotidiano, inúmeras mensagem que estão espalhadas pelas ruas e estabelecimentos comerciais, como placas de trânsito, de prioridades em filas e caixas de estabelecimento, são sinais desenhados que permitem seu entendimento e sua leitura sem o uso da palavra escrita.  E como se reporta Segabinazi(2017, p.28): “Em síntese, as ilustrações são textos que convidam, conduzem e provocam o leitor a sentir, perceber e pensar para expressar, narrar, dizer e traduzir a imensidão que vai além do visível e notório[...]”(SEGABAZI, 2017, p.28).

 

Sem dúvida o relato de Paiva e Ramos (2016) confere que:

[...] a imagem é mais aberta do que a palavra, mais plena, mais grávida de sentidos. A imagem não diz o que é para ser lido; ela é sugestiva, expansiva. Ao leitor cabe traçar um percurso semântico e sintático, representacional e simbólico a partir dos elementos visuais para compreender o que é veiculado. (PAIVA E RAMOS, 2016, p. 215-16).

Com esse pensamento da imagem ser mais aberta e propensa a nos jogar em um imaginário de sugestão é que aliamos a literatura acadêmica, para tecer uma leitura sem texto com uma interpretação racional direcionada ao objeto proposto para leitura e não distante do conteúdo projetado, dessa forma ensinando a ver, observar, analisar e entender o que se vê e mesmo criticar o que se vê.

 Arrolamos outro exemplo vinculado ao texto de Sena e Mendes (2020, p.4) supra mencionado para se aliar a uma proposta de leitura sem texto do objeto abaixo apresentado, uma obra que retrata o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro, no século XIX.

Figura 3 _Obra de Deblet 

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/obra-de-debret-que-retratou-cotidiano-da-cidade-no-seculo-xix-sera-tema-de-mostra-15404860

Começando por indagar quem foi o retratista que se aponta como Debret, ou Jean Baptista Debret (1768-1848), um pintor, desenhista francês que integrou a Missão Artista Francesa, autor de Viagem Pitoresca pelo Brasil, e elaborou o esboço da bandeira do Brasil. Percebe-se que há uma demanda de pesquisa e descobertas de novas informações instigadas pela colocação da leitura sem texto.  Na figura apresentada acima, pode-se verificar uma movimentação urbana próximo a um porto, em praça de comércio mais intenso, onde se identifica em primeiro plano, trabalhadoras com vestes mais apuradas, convivendo com brancos, diferenciando-se por não usar sapatos, provavelmente escravos de ganho ou libertos que buscam o seu sustento. Roupa coloridas, vestido calças, turbantes, chapéus, pode-se por oportuno fazer uma projeção da moda ou dos hábitos de vestimenta da época, conjeturar se é um escravo doméstico ou de senzala. Por oportuno a leitura sem texto nos permite inclusive admirar a obra de arte e “o leitor é estimulado à curiosidade e absorve novas informações, construindo assim novos conhecimentos” (SEGABINAZI, 2017, p.1). Ilustramos com mais uma figura, do mesmo autor, para reforçar que o material empregado é rico e fará despertar muitas idéias e sugestão sobre o que é lido no objeto.

 A figura 4, sem querer se aprofundar nos detalhes, pode ser evidenciado aos variados tipos de chapéus e vestimentas, alertando para a possibilidade de serem de diferentes etnias africanas.

 Figura 4 – Negros canqueiros. Escravos urbanos, 1830.


Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQyLRs1xsoO8BDxPwrdCLrVflkRwxcgoxPH2BUBsEaS-reoI0KPzTNd01YJ-CsuB6F4UNYw_CV1xQqByUH0gfG5DS5L35RVgt2QhWEQlyqtmEvd0Cub9rx4jcFkzT5Gu3SwJkkv8yRlWBh/s195/candangos.jpg.

  

Este reencontro com a proposta de leitura sem texto se alicerça em uma diversificação de metodologia a ser empregada no ensino de história, saindo de um monólogo em aula, de abordagens direcionadas, para oferece ao leitor a pluralidade cultural, fortalecer sua identidade, fazendo conhecer as características de uma cultura em determinada época ou situação.

 Neste cenário que apresentamos não entramos no processo avaliativo ou na freqüência da aplicação deste método junto aos estudantes, mas sim na importância da existência desta leitura para o enriquecimento do conhecimento.


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 A leitura sem texto, onde a escrita é omitida é ler imagem, ler sinais, desenhos, croquis, a expressão facial, o sentimento, o clima, enfim associar palavras, conceitos, ao que se esta absorvendo e associando informações e conhecimentos sem a presença da grafia.

  De maneira simples, tais leituras nos acompanham no dia a dia e são por vezes pouco assimiladas como sendo sem texto ou passam despercebidas durante o nosso cotidiano, a inexistência da palavra escrita sobre os sinais ou placas de aviso e orientação.

O uso da internet através de celulares e computadores está cada vez mais próximo do público comum e desta se pode usufruir coletando subsídios para alicerçar conhecimentos através de pesquisa nas mais variadas fontes existentes neste ambiente. Recurso que nos possibilita e facilita obtenção de informações sobre o objetivo proposto, ou seja, a respeito do objeto a ser lido, sem a presença da palavra.  Tem-se em consideração que se alia a busca de conhecimento presente em literatura acadêmica, correlacionada a leitura sem texto. Entende-se dessa forma que se incentiva a pesquisa e busca de conhecimento e se promove o hábito de leitura associado ao fato histórico cultural.

 A viabilidade destas experiências, leitura e pesquisa, agregado a leitura sem texto, irão por certo abrir caminhos a nova aprendizagem e conhecimentos de forma mais prazerosa devido à participação, dialogo, interação que será promovida entre o mediador e os leitores.

  Segundo Martins (2020, p.3) “é impossível apresentar todas as maneiras de ver a história, mas é fundamental mostrar que ela não é constituída de uma única vertente (e que, até mesmo dentro de uma delas, pode haver várias interpretações).” Para o leitor esta ferramenta de leitura por certo lhe aumentara a percepção de um olhar mais crítico sobre o conteúdo visto, uma memorização da imagem e assunto abordado.

 

A brevidade deste texto não objetiva exaurir o assunto, revela apenas que é mais uma ferramenta que pode vir a ser aplicada em aulas despertando novos interesses, instigando a pesquisa, a visita em Museus, a decifrar uma obra de arte e ter na consciência que o cotidiano é repleto de sinais que são lidos sem a presença da grafia e que não se pratica apenas a leitura de algo escrito.

 Agregar a história, o fato histórico, do período colonial, imperial ou outro é contundente que se fortalece os conceitos culturais, de temporalidade histórica, de tradições e costumes, vistos distantes da condução da palavra escrita.

 Fazer pensar e deixar pensar faz parte desta construção.

 

 REFERÊNCIAS

 

BATTAGLIN, Fabiano.  Roupas dos escravos são mais gastas, Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/463870830350748956/>. Acesso em: 05.08.2020.

 

BRITO, Edilson Pereira; FABRICIO, Edison Lucas. História da África e dos africanos: da divisão colonial aos dias atuais. Indaial: Uniasselvi, 2012.

 

COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. 4. ed. São Paulo: Editora Unesp, 1997. 570 p.

 

MARTINS, Ana Rita. O que ensinar em história.   Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1791/o-que-ensinar-em-historia> 04/11/2019

 Acesso em: 05.08.2020.

 

PAIVA, Ana; RAMOS, Flávia. O não-verbal no livro literário para criança In: GIROTTO, Cyntia G. S; SOUZA, Renata Junqueira (Org.). Literatura e educação infantil: livros, imagens e práticas de leitura. Vol. 1. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2016. (Série Literatura, Leitura, e Educação infantil).

 

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Negras Imagens: ensaio sobre Cultura e Escravidão no Brasil. São Paulo:Estação Ciência, 1996.

 

SEGABINAZI, Daniela. Ler livros sem palavras, ler imagens e mundos. Revista Linhas. Florianópolis, v. 18, n. 37, p. 22-45, maio/ago. 2017.

 

SENA, Malu Martins; MENDES; Francisca Raimunda Nogueira. A Indumentária Escrava como Fator de Distinção Social no Período Colonial Brasileiro. 2017. Disponivel em: <http://www.coloquiomoda.com.br/coloquio2017/anais/anais/13-Coloquio-de-Moda_2017/PO/po_3/po_3_A_indumentaria_escrava_como_fator.pdf> Acesso em 05.08.2020.

 

SIMON, Inre. MAC 339 - Informação, Comunicação e a Sociedade do Conhecimento. Disponível em: <https://www.ime.usp.br/~is/ddt/mac339-01/aulas/www.linux.ime.usp.br/hvila/mac339/tema8.html#:~:text=Literatura%20acad%C3%AAmica%20s%C3%A3o%20as%20publica%C3%A7%C3%B5es%20de%20pesquisa%20acad%C3%AAmica.> Acesso em: 05.08.2010.

 

WIKIPEDIA, Jean Baptiste Debret. Disponível em:< https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Debret> Acesso em: 05.08.2020.

 



[1]Aluno do Curso de pós-graduação em Metodologia do Ensino de História, na UNIASSELVI -Centro Universitário Leonardo da Vinci. Polo Zona Sul de Porto Alegre – RS, regime EAD. E-mail: rogerio_petrini@hotmail.com.

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