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quinta-feira, 4 de junho de 2015

Entre o reflexo e a reflexão: por detrás das cortinas da performance museal - Resenha

RESENHA

Entre o reflexo e a reflexão: por detrás das cortinas da performance museal

 

Rogerio Carlos Petrini de Almeida[1]

 

Bruno Cesár Brulon Soares: Bacharel em Museologia (2006), licenciado e Bacharel em História (2011) pela UNIRIO, Mestre em Museologia e Patrimônio – UNIRIO – (2008), Dr. Pelo programa de Pós –Graduação em Antropologia  - UFF (2012), Prof. Curso de Museologia da UNIRIO. Vice Presidente do ICOFOM (2013), membro do corpo editorial das revistas Musear, Jovem Museologia e Museology and Cultural Heritage.

 

Palavras-chave: Museus, Museologia. Identidade

Soares relata que existe um significativo estudo dos processos de mediação e performance. Porém não no campo da museologia, que tem este estudo pouco explorado, considerando que os museus produzem experiência em que elementos de um passado são representados no presente cuja mediação e dialogo se concretizam na performance, na ação de sujeito e para sujeito. Diz que “O Museu, como uma parte integrante da realidade social moderna, é uma instância consagrada onde performance e teatralidade podem se manifestar livremente.” (p.194), e, o que é real está atrelado a uma definição cultural. Por esta razão, a performance museal não é desprovida de consequências éticas. Ela envolve não apenas a verdade, mas aquilo que as pessoas pensam da verdade. Ao apresentar a cultura através do drama a uma sociedade, os museus interpretam o próprio drama do ‘museu’, seu sentido, sua autoridade, seu poder. Os objetos na exposição de um museu são objetos sobre os quais somos levados a pensar. Eles nos são apresentados pela performance. Somos levados a pensar sobre ele, já que, neste encontro, há um confronto. Descreve a atuação dos museus como um instituições que apresentam performances. Performance entendida como uma estrutura dramática, um enredo, que confere sentido e dá vida aos códigos comunicativos.

Compara o Museu a teatro, assim como foi anteriormente comparado a templos, igrejas, palácios, por apresentar performance dramática. Comenta que (p.195),“através da história, os museus flutuaram de um domínio a outro, se tornando mais e mais teatrais ainda que nunca abandonando a posição ritualística que os teria definido em um outro momento de sua existência institucional.” Com o ritual, os museus perpetuaram a crença no poder sagrado, como  templos eternos da verdade, capazes de sacralizar a realidade. Com o teatro, revelam que não há uma única verdade.  No Museu e teatro é apresentado um arranjo das coisas da realidade, no qual as coisas reais re-apresentam o real.  Há uma performance museal que é dialógica no encontro entre o objeto e o expectador e estabelece uma nova relação de realidade. A muselização é um processo subjetivo onde o objeto não é um fato isolado, carrega parte de seu passado e abre-se para a imaginação, com seu valor performativo. E o autor registra que “O que os museus musealizam, em última instância, não é a coisa em si, mas todas as relações que ela pode encenar, e os valores produzidos nessas performances.” (p.196),  que “[..] A essência dos museus, assim como a do teatro, é a apresentação.”

Em uma performance para que ocorra o dialogo entre os múltiplos é necessário uma separação, de ritos, de estruturas; transição ou liminaridade, que instaura a lacuna entre a vida social e o gênero da performance, teatralidade,um rito de passagem e uma restauração ou incorporação  iniciada pela sujeito. O autor reflete (p.197) que “Sendo o ritual a mediação entre a forma e a indeterminação, e a liminaridade o estágio do ritual que adere ao indeterminado e que evidencia as ambiguidades da sociedade, a performance pode ser entendida como um momento de reflexão porque ela expõe o caos na estrutura social.” E coloca que “Museu e teatro são instâncias nas quais as fronteiras entre realidade e fantasia são, com frequência, imprecisas.” (p.197).

 Para o autor a principal característica da performance é o comportamento restaurado. E em se tratando de comportamento restaurado traduz como um comportamento que pode ser armazenado, transmitido e manipulado, que pode restaurar o passado, que está sujeito a revisão. Faz analogia com uma máscara como um estado liminar, que pode representar a si mesmo ou não. Como comportamento restaurado deve convencer a sua legitimidade devem atuar como ação regenerativa estabelecendo uma ponte entre o presente e o passado, uma ação pertencente aos museus.

O autor comenta o paradigma do espelho e a performance museal, paradigma de representações identitárias reflexivas, instrumento de autoconhecimento e reflexão. E diz (p. 201) “O museu, como performance, é a própria atuação, ou o jogo de atuações por parte dos atores engajados na performance cultural. E as performances são, em si, negociações constantes de sentido que estes atores dão vida no palco. Por isso a atuação é também reflexão – e não apenas reflexo.” Manifesta que museus não são vitrines, não são espelhos de seus visitantes,  mas plataformas de performance, reflexiva, feitos daquilo que apresentam. Desmitifica a parábola do espelho colocando que o museu é uma representação e não uma simples produção de imagem. Os museus acrescentam algo mais a realidade que é a performance que são traduzidas pela experiências vividas.

O diálogo entre o museu e o público é um encontro de experiências, um encontro de expectativas, que são o principal ingrediente da performance. O trabalho do museu é o de dar algo e receber algo em troca. Finaliza dizendo (p.203) que: “museus não podem ser concebidos como templos ou fóruns, palácios ou cemitérios, porque é muito mais útil pensá-los como palcos.”

O autor propõem uma teoria de performance, trazendo uma analogia do teatro usada para explicar a relação do museu com o público, encontro com o autêntico com o real  colocando que a través da performance os museus acrescentam algo a mais à realidade. Utilizando exemplo como ecomuseus a metáfora do espelho em uma comparação para abordar a performance museal e como esta pode restaurar o passado através da ação regenerativa. Museus que apresentam sua performance e a performance do público, produzindo diálogos reflexivos. Argumentamos que o campo da Teoria Museológica está em aberto e entendemos que a performance, não é exclusiva deste espaço, mas,  é um elemento existente dentro deste campo que pode ser traduzida por desempenho do museu, ou desempenho do musealizado na presente relação que o museu proporciona.   

 

REFERÊNCIA

SOARES, Bruno Brulon. Entre o reflexo e a reflexão: por detrás das cortinas da performance museal. Documentos de trabalho do 21º Encontro Regional do ICOFOM LAM 2012. Petrópolis, Nov/ 2012. p.192-204.



[1] Aluno do Curso de Museologia – FABICO / UFRGS. Trabalho realizado como pré-requisito para avaliação parcial da disciplina Teoria Museológica (BIB03239), ministrada pela Professora Ana Carolina Gelmini de Faria. Porto Alegre, mar. de 2015. E-mail: rogériopetrini@gmail.com.

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