RESENHA
A experiência
museológica: Conceitos para uma fenomenologia
do Museu
Rogerio Carlos Petrini de Almeida[1]
Bruno Cesár Brulon
Soares: Bacharel em Museologia (2006), licenciado e Bacharel em História
(2011) pela UNIRIO, Mestre em Museologia e Patrimônio – UNIRIO – (2008), Dr.
Pelo programa de Pós –Graduação em Antropologia
- UFF (2012), Prof. Curso de Museologia da UNIRIO. Vice Presidente do
ICOFOM (2013), membro do corpo editorial das revistas Musear, Jovem Museologia
e Museology and Cultural Heritage.
Palavras-chave: Museus,
Museologia. Experiência
Em suas considerações
iniciais o autor coloca que o uso do museu pelas pessoas não somente para
contemplação, mas como uma experiência de si. A evolução do relacionamento que
vem a se traduzir em um movimento de uma nova museologia focada no humano como
objeto, sujeito ao complexo da sociedade, na sua relação e apresentação, na
forma que se produz no mundo. O autor evoca o temo de “ciência do impreciso”
(p.56) condicionante a museologia ser uma ciência em desenvolvimento, por ainda
ter seu objeto em discussão. Diz que é um “Campo do saber ainda em
constituição, não há como estabelecer seguramente os seus limites” (p.57), e
que há uma comunidade científica recém-nascida, que passa a pensar os seus
limites como ciência.
Faz uma abordagem
filosófica sobre a museologia utilizando a ontologia parmenidiana fundamentada
na essencialidade do múltiplo, considerando que o museu será diferente para
cada indivíduo e o indivíduo diferente para cada museu diante das várias realidades
sociais e de cada modelo do real. Comenta
que é “contemplando as relações humanas
com esse real múltiplo que a museologia passa a se caracterizar como uma ciência
humana” (p.58). Objetiva atribuir um caráter científico, teórico, em detrimento
a visão direcionada ao aspecto prático incorporado no campo da museologia. Traz
as considerações ontológicas de Gregorava[2] (p.59) para explicar a
museologia como pertencente a ciências humanas ou sociais, na relação múltipla
homem com a realidade.
Evoca a origem dos
Museus em mudanças de concepção no decorrer dos tempos do significado de
templos das musas a que não consistia em um museu no significado atual ou no
sentido moderno, do qual aparece no século XV com variação do termo, para
designar ou referir-se a coleções. Desenvolvendo o modelo clássico de museu, de
cultura ocidental, chega aos dias atuais caracterizados pela capacidade de
atuar na relação do homem, pela realidade de pertence da coletividade, pelo
relacionamento espaço tempo.
O museu alicerçado
pelo pensamento europeu moderno, responde a questões sociais, abrindo suas
portas à população após o advento da criação do Louvre, em 1973. A partir deste
evento os museus evoluem. Abrem-se novos museus com modelos conceituais diferenciados,
surgindo museus (1790) ao ar livre, marco das mudanças. Com relação as
transformações o autor comenta: “o que se percebe, a partir de então, é que
cada vez mais, nos museus dos últimos dois séculos, a coleção, como principal
objeto, dá lugar às experiências humanas no espaço musealizado e, logo,
passa-se a valorizar mais as interações humanas com os objetos e os meios do
que os objetos em si mesmos” (p.61), caracterizando os modelos de “museu social”
[3] e principiando o modelo de
ecomuseus. O autor aborda o movimento da Nova Museologia[4] ou “museologia de ação”,
face ao fenômeno histórico que se formou provocado pela mudança no papel social
do museu e pelas relações que se estabelece com o real, preservando memória e
valores.
O entendimento do
ICOFOM do Museu como fenômeno social, é de que as reflexões sistemáticas sobre
o objeto da museologia dispensaria definições normativas. Entra em pauta esta desmistificação pela
atitude de mudanças dos museus que passam a olhar não só suas coleções, mas o
que está fora: as pessoas. As experiências diversas, a preservação de
território limitado, voltados à comunidade. A evolução dos museus tradicionais
o surgimento de museus de vizinhança[5], com as funções voltadas a
vida das pessoas da vizinhança de forma a explicar quem elas são e seus valores
de promover a educação. Surgem novas
formas de museus que superam o contemplar para o experimentar; em um sentido mais amplo de relação. Museus
exploratórios, de ciências tecnologias, da descoberta, que priorizam o ensino,
vão surgindo ao longo do século XX. Priorizam a construção de experiências
interagindo de várias maneiras, permitindo a experiência humana do real.
O autor coloca a discussão
sobre Museologia ser uma ciência ou trabalho prático, como um fenômeno
instaurado pela indefinição do objeto de estudo, chamando a atenção para
ideologia dos diversos autores sobre os termos: museologia, museografia, teoria
de museus, museístico. Termos que se reportam a museus cujo campo chega aos
nossos dias com a indefinição como ciência. Discute a musealidade como objeto
da museologia, produto da relação do homem com a realidade. Objeto não focado
apenas nas coleções e ultrapassando o sentido de trabalho prático exercido
pelos museus, que estes não são estruturas únicas, mas dinâmicas. Aponta o iniciar
de uma fenomenologia de Museus.
Surge a base
essencialmente filosófica de uma teoria museológica, uma forma específica de
pensar museu e museologia. Segundo o autor (p.66) ,“O Museu passa a ser
estudado por grande parte dos teóricos como um fenômeno social dinâmico, o que
daria possibilidade à museologia de se tornar uma ciência humana. Pensar uma
fenomenologia do Museu significa pensá-lo em movimento, num constante processo
de atualização de si mesmo, pois é assim que se comportam os fenômenos.”
Baseado nesta fenomenologia chama de
experiência museológica a relação humano-realidade que acontece no Museu.
Experiência museológica traduzida na compreensão das experiências da relação
espontânea, da percepção do real, pelo indivíduo humano. O autor comenta sobre
a experiência dizendo que “não são colecionáveis, são transitórias e elusivas,
estritamente localizadas, não no tempo ou no espaço, mas no indivíduo humano somente.”
Os museus com suas subjetividades,
permitem esse diálogo como base de
experiência. Reflexiona a questão da
existência dos objetos clareando que os objetos são importantes suportes da
constituição da experiência museológica que muda a percepção do objeto, ficando
o propósito de promover uma experiência subjetiva, estética e assume a forma de
tornar o mundo inteligível aos sentidos.
O autor coloca que
nasce um novo museu, com ausência da instituição, baseado na experiência e no
próprio indivíduo humano, na ligação humana e real.
Questiona se “Existem
limites para o Museu?” (p.70) e diz que o desafio maior e a falta de limites,
que gera instabilidade, que leva em direção ao inexplorado, mas, que as
descobertas serão palpáveis.
O texto do autor
procura a essência do objeto da museologia através da relação pertencente ao
indivíduo humano externada pelas experiências que o real lhe proporciona, para
conceber a museologia como ciência humana com objeto de estudo próprio com base
no fenômeno Museu e no objeto da experiência museológica, o que se entende ser
uma teorização que requer outros olhares, pelo complexo do assunto “Fenômeno
Museu” e pelo insipiente estudo quanto as “experiências museológicas”.
REFERÊNCIA
SOARES, Bruno C. Brulon. A experiência museológica: Conceitos para
uma fenomenologia do museu. Revista
Museologia e Patrimônio, vol.5, n°2, 2012. p.55-71.
[1]
Aluno do Curso de Museologia – FABICO / UFRGS. Trabalho realizado como
pré-requisito para avaliação parcial da disciplina Teoria Museológica
(BIB03239), ministrada pela Professora Ana Carolina Gelmini de Faria. Porto
Alegre, mar. de 2015. E-mail: rogériopetrini@gmail.com.
[2]
Gregorová,
Ana. Museological
working papers no 2/1981. MuWop, n 2.
P. 33 Disponivel em: http://network.icom.museum/fileadmin/user_upload/minisites/icofom/pdf/MuWoP%202%20(1981)%20Eng.pdf
Acesso em: 25 mai 2015.
[3]
Scheiner, T. C. As bases ontológicas do Museu e da
Museologia. In: SIMPÓSIO MUSEOLOGIA, FILOSOFIA E IDENTIDADE NA AMÉRICA LATINA E
CARIBE. ICOFOM LAM, Coro,Subcomitê Regional para a América Latina e
Caribe/ICOFOM LAM, p.133-143, 1999.
[4]
. Em1984, a Declaração de Quebec dá força às novas
ideias, criando o Movimento Internacional para uma NovaMuseologia
[5] KINARD, John R.; NIGHBERT, Esther. The Anacostia Neighborhood Museum,
Smithsonian Institution, Washington,
D.C. Museum, v. XXIV, n. 2, 1972.
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