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domingo, 31 de maio de 2015

A experiência museológica: Conceitos para uma fenomenologia do Museu - Resenha


RESENHA

A experiência museológica: Conceitos para uma fenomenologia
do Museu


Rogerio Carlos Petrini de Almeida[1]

 

Bruno Cesár Brulon Soares: Bacharel em Museologia (2006), licenciado e Bacharel em História (2011) pela UNIRIO, Mestre em Museologia e Patrimônio – UNIRIO – (2008), Dr. Pelo programa de Pós –Graduação em Antropologia  - UFF (2012), Prof. Curso de Museologia da UNIRIO. Vice Presidente do ICOFOM (2013), membro do corpo editorial das revistas Musear, Jovem Museologia e Museology and Cultural Heritage.

 

Palavras-chave:  Museus, Museologia. Experiência

Em suas considerações iniciais o autor coloca que o uso do museu pelas pessoas não somente para contemplação, mas como uma experiência de si. A evolução do relacionamento que vem a se traduzir em um movimento de uma nova museologia focada no humano como objeto, sujeito ao complexo da sociedade, na sua relação e apresentação, na forma que se produz no mundo. O autor evoca o temo de “ciência do impreciso” (p.56) condicionante a museologia ser uma ciência em desenvolvimento, por ainda ter seu objeto em discussão. Diz que é um “Campo do saber ainda em constituição, não há como estabelecer seguramente os seus limites” (p.57), e que há uma comunidade científica recém-nascida, que passa a pensar os seus limites como ciência.

Faz uma abordagem filosófica sobre a museologia utilizando a ontologia parmenidiana fundamentada na essencialidade do múltiplo, considerando que o museu será diferente para cada indivíduo e o indivíduo diferente para cada museu diante das várias realidades sociais e de cada modelo do real.  Comenta que  é “contemplando as relações humanas com esse real múltiplo que a museologia passa a se caracterizar como uma ciência humana” (p.58). Objetiva atribuir um caráter científico, teórico, em detrimento a visão direcionada ao aspecto prático incorporado no campo da museologia. Traz as considerações ontológicas de Gregorava[2] (p.59) para explicar a museologia como pertencente a ciências humanas ou sociais, na relação múltipla homem com a realidade.

Evoca a origem dos Museus em mudanças de concepção no decorrer dos tempos do significado de templos das musas a que não consistia em um museu no significado atual ou no sentido moderno, do qual aparece no século XV com variação do termo, para designar ou referir-se a coleções. Desenvolvendo o modelo clássico de museu, de cultura ocidental, chega aos dias atuais caracterizados pela capacidade de atuar na relação do homem, pela realidade de pertence da coletividade, pelo relacionamento espaço tempo.

O museu alicerçado pelo pensamento europeu moderno, responde a questões sociais, abrindo suas portas à população após o advento da criação do Louvre, em 1973. A partir deste evento os museus evoluem. Abrem-se novos museus com modelos conceituais diferenciados, surgindo museus (1790) ao ar livre, marco das mudanças. Com relação as transformações o autor comenta: “o que se percebe, a partir de então, é que cada vez mais, nos museus dos últimos dois séculos, a coleção, como principal objeto, dá lugar às experiências humanas no espaço musealizado e, logo, passa-se a valorizar mais as interações humanas com os objetos e os meios do que os objetos em si mesmos” (p.61), caracterizando os modelos de “museu social” [3] e principiando o modelo de ecomuseus. O autor aborda o movimento da Nova Museologia[4] ou “museologia de ação”, face ao fenômeno histórico que se formou provocado pela mudança no papel social do museu e pelas relações que se estabelece com o real, preservando memória e valores.

O entendimento do ICOFOM do Museu como fenômeno social, é de que as reflexões sistemáticas sobre o objeto da museologia dispensaria definições normativas.  Entra em pauta esta desmistificação pela atitude de mudanças dos museus que passam a olhar não só suas coleções, mas o que está fora: as pessoas. As experiências diversas, a preservação de território limitado, voltados à comunidade. A evolução dos museus tradicionais o surgimento de museus de vizinhança[5], com as funções voltadas a vida das pessoas da vizinhança de forma a explicar quem elas são e seus valores de promover a educação.  Surgem novas formas de museus que superam o contemplar para o experimentar;  em um sentido mais amplo de relação. Museus exploratórios, de ciências tecnologias, da descoberta, que priorizam o ensino, vão surgindo ao longo do século XX. Priorizam a construção de experiências interagindo de várias maneiras, permitindo a experiência humana do real.

O autor coloca a discussão sobre Museologia ser uma ciência ou trabalho prático, como um fenômeno instaurado pela indefinição do objeto de estudo, chamando a atenção para ideologia dos diversos autores sobre os termos: museologia, museografia, teoria de museus, museístico. Termos que se reportam a museus cujo campo chega aos nossos dias com a indefinição como ciência. Discute a musealidade como objeto da museologia, produto da relação do homem com a realidade. Objeto não focado apenas nas coleções e ultrapassando o sentido de trabalho prático exercido pelos museus, que estes não são estruturas únicas, mas dinâmicas. Aponta o iniciar de uma fenomenologia de Museus.

Surge a base essencialmente filosófica de uma teoria museológica, uma forma específica de pensar museu e museologia. Segundo o autor (p.66) ,“O Museu passa a ser estudado por grande parte dos teóricos como um fenômeno social dinâmico, o que daria possibilidade à museologia de se tornar uma ciência humana. Pensar uma fenomenologia do Museu significa pensá-lo em movimento, num constante processo de atualização de si mesmo, pois é assim que se comportam os fenômenos.”

 Baseado nesta fenomenologia chama de experiência museológica a relação humano-realidade que acontece no Museu. Experiência museológica traduzida na compreensão das experiências da relação espontânea, da percepção do real, pelo indivíduo humano. O autor comenta sobre a experiência dizendo que “não são colecionáveis, são transitórias e elusivas, estritamente localizadas, não no tempo ou no espaço, mas no indivíduo humano somente.” Os museus com suas  subjetividades, permitem esse  diálogo como base de experiência.  Reflexiona a questão da existência dos objetos clareando que os objetos são importantes suportes da constituição da experiência museológica que muda a percepção do objeto, ficando o propósito de promover uma experiência subjetiva, estética e assume a forma de tornar o mundo inteligível aos sentidos.

O autor coloca que nasce um novo museu, com ausência da instituição, baseado na experiência e no próprio indivíduo humano, na ligação humana e real.

Questiona se “Existem limites para o Museu?” (p.70) e diz que o desafio maior e a falta de limites, que gera instabilidade, que leva em direção ao inexplorado, mas, que as descobertas serão palpáveis.

O texto do autor procura a essência do objeto da museologia através da relação pertencente ao indivíduo humano externada pelas experiências que o real lhe proporciona, para conceber a museologia como ciência humana com objeto de estudo próprio com base no fenômeno Museu e no objeto da experiência museológica, o que se entende ser uma teorização que requer outros olhares, pelo complexo do assunto “Fenômeno Museu” e pelo insipiente estudo quanto as “experiências museológicas”.

 

REFERÊNCIA

SOARES, Bruno C. Brulon. A experiência museológica: Conceitos para uma fenomenologia do museu. Revista Museologia e Patrimônio, vol.5, n°2, 2012. p.55-71.



[1] Aluno do Curso de Museologia – FABICO / UFRGS. Trabalho realizado como pré-requisito para avaliação parcial da disciplina Teoria Museológica (BIB03239), ministrada pela Professora Ana Carolina Gelmini de Faria. Porto Alegre, mar. de 2015. E-mail: rogériopetrini@gmail.com.
[2] Gregorová, Ana.  Museological working papers no 2/1981. MuWop, n 2.  P. 33 Disponivel em: http://network.icom.museum/fileadmin/user_upload/minisites/icofom/pdf/MuWoP%202%20(1981)%20Eng.pdf Acesso em: 25 mai 2015.
[3] Scheiner, T. C. As bases ontológicas do Museu e da Museologia. In: SIMPÓSIO MUSEOLOGIA, FILOSOFIA E IDENTIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE. ICOFOM LAM, Coro,Subcomitê Regional para a América Latina e Caribe/ICOFOM LAM, p.133-143, 1999.
[4] . Em1984, a Declaração de Quebec dá força às novas ideias, criando o Movimento Internacional para uma NovaMuseologia
[5] KINARD, John R.; NIGHBERT, Esther. The Anacostia Neighborhood Museum, Smithsonian  Institution, Washington, D.C. Museum, v. XXIV, n. 2, 1972.

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