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quinta-feira, 30 de abril de 2015

A identidade cultural na pós-modernidade - resenha

RESENHA
A identidade cultural na pós-modernidade
 
 
Rogerio Carlos Petrini de Almeida[1]
 
Stuart Hall:  ( 1932 -2014) foi um teórico cultural e sociólogo jamaicano que viveu no Reino Unido a partir de 1951. Foi uma das figuras fundadoras da escola de pensamento que hoje é conhecido como Estudos Culturais britânicos ou a escola Birmingham dos Estudos Culturais. Exerceu p cargo de presidente da Associação Britânica de Sociologia entre 1995 e 1997.
 
No primeiro capítulo o autor reflete a questão da identidade colocando que as velhas identidades estão em declínio fazendo surgir novas identidades e promovendo a crise de identidade como parte de processo de mudança social. Propõe-se a avaliar se existe uma crise de identidade e em que direção está indo e na afirmação de que as identidades estão descentradas, deslocadas e fragmentadas. Aborda a opinião da comunidade sociológica como dividida, nesta temática, e que o conceito de identidade é complexo e pouco desenvolvido e pouco compreendido pela ciência social. As mudanças estruturais estão transformando a sociedade contemporânea, fragmentando as classes de gênero, sexualidade, etnia e nacionalidade, mudando a identidade das pessoas, provocando a descentração do indivíduo do mundo social e cultural surgindo a crise de identidade. Examina três concepções de identidade a primeira a do sujeito do iluminismo articulada na pessoa humana, totalmente centrada, unificada e dotada da razão e ação, o centro era a identidade da pessoa sob olhar masculino; a concepção do sujeito sociológico consciência de que o núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas formado pela relação entre pessoas valorizando o simbólico e sentidos e modificando-se continuamente; o sujeito pós-moderno está fragmentando-se em várias identidades algumas contraditórias e mal resolvidas, em transformação contínua e assumindo identidades em diferentes momentos que não são unificadas em tono de si. O autor comenta o caráter da mudança na modernidade tardia (impacto da globalização sobre a identidade cultural) que a sociedade sofre mudanças constantes, rápidas e permanente, ocasionadas por ondas de transformações sociais e que a sociedade está constantemente sendo deslocada por forças fora de si mesma, que a sociedade da modernidade se caracteriza pelas diferenças e diferentes posições do sujeito. O que está em jogo na questão das identidades? É um dos questionamentos do autor e o autor reflexiona as consequências políticas da fragmentação ou pluralização de identidades e o jogo das identidades e suas consequências, que podem aflorar identidades contraditórias ou deslocadas, da sociedade ou do indivíduo. A identidade muda, pode ser ganha, ou perdida, de acordo com a forma que o sujeito é interpelado.
Nascimento e morte do sujeito moderno, capítulo em que o autor fala das concepções mutantes do sujeito humano, nas formas das mudanças da identidade no pensamento moderno. O individualismo que surgiu na época moderna atribuiu uma nova concepção do sujeito individual e da sua identidade, o sujeito é indivisível, é singular, distinta, e única. Na construção de sua história o sujeito passa por vários estágios conceituais iniciando pela ruptura do passado surgindo o indivíduo soberano, passando para o sujeito cartesiano instituído por Decartes, como o sujeito racional. O indivíduo soberano esta presente nos processos centrais que fizeram o mundo moderno. Surge o sujeito moderno envolvido com o desenvolvimento industrial, localizado no discurso da economia, e pela biologia darwiniana, onde a razão tinha base na natureza. Um segundo evento surge das novas ciências sociais o indivíduo soberano permanece como a figura central do discurso o sujeito cartesiano, dualista, tende ao campo da psicologia e a sociologia fornece crítica ao individualismo racional. O autor reflexiona os processos desenvolvidos pelo indivíduo, a internalização do exterior e externalização do interior, através das ações do mundo social, com uma reciprocidade estável entre si. E surge o comentário do indivíduo isolado, que aparecem exilado e anônimo da sociedade moderna. Descentrando o sujeito descreve o deslocamento através de rupturas no discurso do conhecimento moderno sobre o descentramento do sujeito cartesiano que está focado no dualismo da matéria, como substância espacial, e na mente, como substância pensante. Prioriza o descentramento provocado pelas tradições do pensamento marxista, século XIX, que coloca as relações sociais e não a noção abstrata de homem no centro de seu sistema teórico deslocando a essência universal do homem em que essa essência é o atributo de cada indivíduo. O segundo descentramento ocorre com a teoria de Freud de que nossas identidades, sexualidade, desejos, são formados com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que são formadas gradualmente ao longo do tempo, portanto incompleta e está sempre sendo formada. O terceiro descentramento está na linguista estrutural em que a língua é um sistema social e não individual e que em nenhum sentido nós somos os autores das afirmações, dos significados que expressamos na língua, utilizamos a língua para produzir significados das palavras que não são fixos e o falante individual não pode fixar o significado de uma forma final, incluindo o significado de sua identidade. O quarto descentramento está no poder disciplinar, poder instituído por Michel Foucault, cujo poder se preocupa com regulação sob o controle e disciplina dos regimes administrativos e a preocupação sobre o indivíduo e o corpo. O poder disciplinar é um produto das instituições coletivas e da modernidade tardia, a globalização. O quinto descentramento é o impacto do feminismo parte dos novos movimentos sociais, dos anos 70 que apelava para as mulheres. E questionou distinções entre o dentro e o fora, o privado e público, abrindo abordagens sobre a sexualidade, família, trabalho e a divisão doméstica, politizou a subjetividade a identidade e o processo de identificação e questionou a noção de homens e mulheres fazerem parte de uma mesma identidade, questionando diferença sexual. Nos cinco descentramento o autor mapeia as mudanças conceituais que influenciaram a questão da identidade.
As culturas nacionais como comunidades e imaginadas tópico em que o autor discorre como sujeito fragmentado é colocado em termos de sua identidade cultural propriamente identidade nacional, a nacionalidade como elo que identifica como algo mais amplo dentro de uma sociedade e a ideia de um indivíduo com o pertencimento de uma nação que envolve um conjunto de significados e sentidos. As culturas nacionais são compostas não apenas de instituições culturais, mas também de símbolos e representação é o que diz o autor no tópico “narrando a nação uma comunidade imaginada”, a cultura nacional como um modo de construir sentidos que influência e organiza nossas ações e concepções que temos de nós mesmos. Sentidos que são contados nas histórias da nação e forma memórias e imagens que constroem a identidade nacional. O autor discute como a cultura nacional atua como uma fonte de significados culturais, um foco de identificação e um sistema de representação. Abre uma seção para falar da desconstrução da cultura nacional, identidade e diferença. Volta-se para a questão de saber se as culturas nacionais e as identidades nacionais que elas constroem, são realmente unificadas, solidificadas nos princípios da posse comum do legado de memórias, desejo de viver em conjunto, vontade de perpetuação da herança que recebeu. Uma cultura nacional que busca unificar as diversidades numa identidade cultural, para representá-los como uma nação. Resalva que as nações modernas são, todas, híbridas culturais, devido as suas diversidades, étnicas, religiosas, e, costumes.
O deslocamento da identidade cultural está sendo promovido, por um complexo de forças de mudanças instituído como globalização, processos atuantes em escala global, promovendo experiências e integrando comunidades em novas combinações de espaço e tempo, que resultam na compressão de distâncias e de escalas temporais com efeito sobre as identidades culturais. É um fenômeno recente, moderno que acelera o fluxo entre nações provocando o declínio de identidades nacionais e promovendo novas e hibridas identidades. A compressão espaço-tempo e identidade comentada pelo autor recaem na aceleração de processos globais com impacto imediato sobre pessoas e lugares situados em grande distância, impacto sobre a identidade e no sistema de representação, escrita, simbolizações através de arte dos sistemas de comunicação e objetos e a relação espaço-tempo têm efeitos profundos sobre a forma como as identidades são localizadas e representadas. O autor problematiza com a questão em direção ao pós-moderno global? E tematiza que o efeito desses processos, enfraquece as formas nacionais de identidade cultural promovendo afrouxamento da identificação nacional e o reforçamento de outros laços culturais, que as identificações globais, deslocam as identidades nacionais e para alguns teóricos está provocando o colapso em todas as identidades culturais promovendo a fragmentação dos códigos culturais em escala global, chamada de pós-moderno global. Quanto mais globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas de tempos lugares, histórias e tradições.
O global, o local, e o retorno da etnia capítulo que o autor examina como a globalização em suas formas mais recentes tem efeito sobre as identidades. Diz que a homogeneização das identidades é uma forma simplista de ver as coisas e que há uma fascinação com a diferença e com mercantilização da etnia, comenta haver uma nova articulação entre o global e o local, que a globalização produzirá novas identificações globais e simultaneamente novas identificações locais.  Anota que a globalização é distribuída de forma desigual ao redor do mundo produzindo resultados diferentes, num pensar que a globalização é um fenômeno ocidental. “O resto no ocidente”, tópico em que o autor apresenta dentro das possíveis consequências da globalização as qualificações da homogeneização das identidades globais enumerando em primeiro lugar que a globalização caminha em paralelo com um reforçamento das identidades locais, embora isto esteja dentro da lógica da compressão espaço-tempo; em segundo lugar coloca que é um processo desigual e tem sua própria geometria de poder; e por último que a globalização retém alguns aspectos da dominação global ocidental, mas as identidades culturais estão, em toda parte, sendo relativizadas pelo impacto da compressão espaço-tempo. A dialética das identidades, com este título no final do capítulo argumenta que a globalização tem efeito de contestar e deslocar as identidades centradas e fechadas de uma cultura nacional tem um efeito plural sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades de novas posições de identificação, no entanto seu efeito geral permanece contraditório diante de algumas identidades que tentam recuperar ou manter sua unidade como no caso da tradição e de outras que se abrigam na tradução ou no aceite de que as identidades estão sujeitas a um plano histórico, da representação e da diferença e em consequência improváveis de serem puras novamente.
O fundamentalismo, diáspora e hibridismo, é o capítulo em que o autor descreve o movimento contraditório entre tradição e tradução. Refere-se que em toda a parte está surgindo identidades culturais que não são fixas, mas que retiram seus recursos de diferentes tradições culturais. Reside na tradução com significação de transferir, de transportar entre fronteiras, a formação de identidades que atravessam e intersectam as fronteiras naturais, composta por pessoas que foram dispersas de sua terra natal, mas que retém fortes vínculos com seu lugar e tradição carregam traços culturais, das linguagens e das histórias locais, e formam identidades hibridas, por pertencerem a dois mundos diferentes.
O tema é bastante complexo, mas nos arriscamos a reflexionar sobre a atualidade deste início do século XXI, onde se acelera a diminuição do espaço-tempo, pelo avanço das tecnologias de comunicação e disseminação das redes sociais, fenômeno da internet, que põe o cotidiano de muito a disposição de muitos, influenciando dessa forma em novas propostas de modo de vida de comportamento e promovendo ao longo do tempo uma mudança de identidade e de identificações associadas e ou com a assimilação de outras culturas, que agora se apresentam sem fronteiras e que formam um novo hibridismo cultural provocado por estas tecnologias.
 
REFERÊNCIA
HALL, Stuart; SILVA. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2009. 101 p.


[1] Aluno do Curso de Museologia – FABICO / UFRGS. Trabalho realizado como pré-requisito para avaliação parcial da disciplina Teoria Museológica (BIB03239), ministrada pela Professora Ana Carolina Gelmini de Faria. Porto Alegre, mar. de 2015. E-mail: rogériopetrini@gmail.com.

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